sexta-feira, abril 20, 2007

O MONTE

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HOJE O NOSSO BLOG ESTREIA UM TEXTO DO MAIS NOVO
DOS NOSSOS COLABORADORES.
O JOÃO GUERREIRO DE 13 ANOS, FILHO DO ZÉ BATISTA
E DA TERESA E NETO DO ELISIÁRIO E DA MARIA FELICIDADE DOS
PORTEIRINHOS, QUE GANHOU O PRIMEIRO PRÉMIO DO CONCURSO LITERÁRIO
DA ESCOLA, COM ESTE TEXTO:

“O MONTE”

Perdido no meio do Alentejo há um monte, o monte da minha memória.

Nele havia pouco mais do que duas dezenas de casas, todas elas brancas, baixas e pintadas com listas azuis ou amarelas.

Nesse monte moravam os avós Guerreiro e mais os tios, as tias, os primos e as primas. Ali toda a gente era família e quando isso não acontecia eram compadres e comadres que vai dar quase ao mesmo.

O meu avô, senhor de olhos azuis e pele queimada do sol, chamava-me Janita. Gostava de levar-me a dar passeios pelo monte e mostrar-me as ovelhas a pastarem, a pocilga, onde gordos porcos de raça alentejana chafurdavam, a cegonha que todos os anos fazia o ninho na chaminé da casa já em ruínas e que tinha sido a casa mais rica do monte.

Mas o que eu gostava mesmo era ir para a horta. Um pedaço de terra em frente à casa dos meus avós e que tinha de tudo um pouco: alfaces, tomates, cebolas, batatas e lá bem no fundo um canteiro com algumas flores coloridas que conseguiam sobreviver ao calor tórrido do Verão.

Foi nessa horta que aprendi como devia regar. Nada de regadores ou mangueiras pois a terra vai junto com a água, mas com carreirinhos dirigidos a todos os cultivos por onde a água corria, como se fosse um rio.

Como eu gostava de molhar as mãos e enchê-las de terra!

São estas as recordações que tenho das férias no Alentejo e do meu avô que, com um sorriso carinhoso, ensinava o seu neto de Lisboa a simples vida do campo.

Hoje em dia, quando lá volto e olho para o pedaço de terra lembro-me das regas, das mãos sujas ou dos calções molhados.

Quase tudo se mantém na mesma, excepto a terra que já não está cultivada. O avô Guerreiro já não trata dela, mas ela continua bem alegre na minha memória.

O avô Guerreiro deve estar orgulhoso das lembranças que o seu monte provoca em todos os seus netos, onze no total, mas sobretudo no seu neto Janita.