quarta-feira, dezembro 03, 2008

SALVÉ O 3 DE DEZEMBRO

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A 3 DE DEZEMBRO FESTEJA O SEU
ANIVERSÁRIO A HERMINIA MARQUES
E O NOSSO BLOGUE FESTEJA COM
ELA.


O nosso blogue tem um carinho muito especial pela Herminia, que junto com a irmã Natercia , estiveram na origem do seu nome-CASA DAS PRIMAS.

Festejamos pois, o seu aniversário dedicando-lhe um poema da poetisa alentejana Virginia Maria Dias:

TEMPOS QUE EU VIVI

A madrugada espreguiçava-se fresca e leve
No céu apagavam-se as estrelas
Guiadas pela mão do almocreve.
Lá iam para o trabalho as parelhas.
Que contraste! Entre a nota alegre das guisadas
E a moda dolente que o almocreve cantava
Da ribeira vinha um cheiro a mentraste
E as falas de alguém que já lavava.
Cruzam-se os ranchos de camponesas.
Gritam umas às outras: Bom dia!
D'entre o lenço espreita-lhe a beleza
Serena, rosada, sádia.
Peroguarda, densamente povoada,
Nem parecia pequena.
Pelas ruas corria o bulício, o alarido
De bandos de criançada,
Jovens e velhos em grupos pelas empenas
Os jovens para verem passar a sua amada
Os velhos na reza do tempo já vivido.
As portas abertas de par-em-par
Davam um ar de alegria e franqueza
Um dizer: Vem, vem partilhar
O pão da minha mesa.
Pão sempre escasso
Que só a miséria abundava
Pão num fraternal abraço
Mesmo sendo escasso se dava.
Enquanto se aquecem ao Sol
Donas de casa costuram e fazem meia
Falam de si, e porque não ir no rol
Também um pouco de vida alheia?
Passam rebanhos com alegre chocalheira
Tocam flauta os moços pastores;
À tardinha debaixo de uma velha oliveira
Reúnem-se para a conversa os lavradores.
Seria o vento que contava?
É que o povo hábil mestre em sátiras
Trocista logo a apelidava
De: oliveira das mentiras.
Foi nesta vivência singela
Que nasci e me criei para a vida
Sofri sim. Mas amei-a! E de vivê-la,
Sempre me senti engrandecida.
Dela sinto uma profunda saudade!
E se vozes dizem que estou errada
Oponho-lhe que nesse tempo de frugal simplicidade
A família não vivia separada.
Divertíamo-nos com o nosso cantar
Não havia rádio nem televisão
Mas também não ouvíamos falar
De droga, sida, emigração.


Poema de Virgínia Maria Dias