quarta-feira, março 06, 2013

1º.CONGRESSO DE CANTE A BALDÃO DESPIQUE E VIOLA CAMPANIÇA

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NO PASSADO SÁBADO 23, REALIZOU-SE EM AMOEREIRAS
GARE , O I CONGRESSO DO CANTE A BALDÃO,DESPIQUE
E VOLA CAMPANIÇA.

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Infelizmente não pôde estar presente, mas não quero deixar de prestar tributo a esta realização e seu significado, e vou aqui deixar textos e imagens de amigos que lá estiveram a quem agradeço desde já, José Guerreiro e Luis Moisão.

Abriu formalmente o Congresso o Dr.José Alberto Guerreiro, Presidente da Câmara de Odemira



A Drª.Maria José Barriga falou sobre "Reencontro de Identidades no processo de revitalização do Cante a Baldão"


Deixo aqui um exerto da dissertação do Prof.José Rodrigues dos Santos,captado pelas Cantadeiras de Alma Alentejana




E também a do Dr. José Guerreiro



"Nos finais do ano de 1986, altura em que era capaz de jurar a pés juntos de que no panorama etno musical da região baixo-alentejana, nada mais já existia, com vitalidade digna de realce, do que o canto às vozes também conhecido por “ cante” ou “moda” , tive conhecimento da existência , na Estação de Ourique , de um tocador e cantador que me disseram saber interpretar algo diferente daquilo que por cá se usava.
Foi assim que conheci, ouvindo cantar e tocar uma viola campaniça, o Sr. Francisco António.
Gravei ,para divulgação na Rádio Castrense, uns quantos temas que pelo motivo da surpresa , pela autenticidade e pela excelência das peças, geraram em mim um enorme sentido de inquietação dada a responsabilidade que passava, a partir daquele momento, a ter entre mãos.
No mesmo dia, conheci também , na Funcheira, o Sr. Manuel Bento e a D. Perpétua que abrindo-me as portas, interpretaram mais meia dúzia de modas, deixando-me rendido e desde logo empenhado, na promoção e na salvaguarda daquilo a que o Dr. José Alberto Sardinha chamou, com grande propriedade, de “ o outro Alentejo” .
De facto, era e é, o outro Alentejo que à data, quase todos desconheciam e outros tantos tinham já esquecido.
No regresso a casa, gizei formas de podermos, na Cortiçol, dar algum alento a esta realidade que era, obviamente, uma preciosidade cultural.
A partir daí e até agora, pelo menos todas as quintas feiras, na Rádio Castrense ouve-se tocar a viola campaniça que através de parcerias e empenhos variados, voltou a ser construída entre nós e tocada por dedos jovens, deixando de ser um instrumento ignorado, descordoado e coberto de pó, só tocado, ocasionalmente, por dois ou três velhos mestres no isolamento de quatro paredes.
Mas não tardou em termos na estrada, correndo mundo e levando a campaniça e o encanto dos seus cantares a plateias primeiro curiosas e depois rendidas, desde os auditórios da Gulbenkian em Lisboa ao Teatro Carlos Alberto no Porto, dos Açores, ao Canadá , o “Grupo de Violas Campaniças” estruturado no âmbito da Cortiçol.
Por esta via, conheci também, pouco mais tarde, na Aldeia das Amoreiras, o Sr. António José Bernardo, um talento , um homem para quem, nada na sua vida, estava à frente do canto de baldão, mas que infelizmente a morte levou cedo demais , deixando-nos ficar um imenso vazio.
Foi ele , precisamente, quem me proporcionou no verão de 1987, uma tarde inesquecível de espanto, de comoção e de grande admiração, quando me convidou para assistir em sua casa a um cante de baldão, organizado e oferecido às tensas de uma filha sua ter concluído o curso do magistério primário.
De lá trouxe um novo desafio, que era tudo fazer para que o cante de baldão deixasse de ser só um pretexto para uns quantos cantadores se juntarem, de quando em vez e quase às escondidas , em exercícios de poesia repentista.
Foi através do “Programa Património” que passámos a divulgar todos os cantos de baldão a que assistíamos e gravávamos , fazendo renascer o gosto generalizado por esta prática, ao ponto de passarem a ser os próprios cantadores a telefonarem, para divulgarmos em direto as suas cantigas.


Ainda agora assim acontece.


Também, porque era necessário , dar corpo , vitalidade e promover o empenho dos cantadores e dos tocadores de campaniça, a Cortiçol , com o apoio do Município, todos os anos, pela Feira de Castro, organiza um Encontro e homenageia um dos artistas, escolhido pelos seus pares.
E já se passaram vinte e muitos anos …


Mas, porque é imperioso valorizar os atuais detentores deste saber e cativar outros mais novos para garantir a continuidade desta tradição, o que pode fazer o Poder Local, para valorizar e estruturar as iniciativas que aqui e ali têm vindo a ser experimentadas?
Apesar de não sermos adeptos da municipalização da cultura, entendemos que a continuidade desta tradição passa, inevitavelmente, por um empenho objetivo e concertado das autarquias em cujos territórios o cante de improviso existe.
Sem a assunção dessa atitude por parte de quem pode influenciar positivamente a vontade dos atuais portadores da arte, estamos a aproximar-nos do colapso do cante repentista enquanto fenómeno cultural ativo. Passaremos depois a ter, simplesmente, meia dúzia de intérpretes disponíveis para atuarem, ocasionalmente, em demonstrações de baldão e por um tempo limitado.
Ora, sendo certo que esta tradição, apesar de estar ainda bastante arreigada nalguns lugares do nosso território, é evidente que lhe falta já o substrato cultural e humano para que sobreviva entregue ao acaso.
Por essa razão, neste estado de emergência ,é irrecusável o apoio autárquico, de molde a que não aconteça ao baldão a mesma sorte que o despique teve.
Plenamente conscientes de que toda e qualquer intervenção nesta área se reveste de uma enorme complexidade, achamos que tal circunstância não deve suster a ação e sugerimos a criação de grupos de trabalho de âmbito concelhio , com uma organização sub-regional, que passem a cuidar deste legado.
Tais grupos de trabalho, com representação e coordenação autárquica, integrarão também representantes das associações culturais locais vocacionadas e representantes dos tocadores e cantadores que numa perspetiva prática, façam uma abordagem ao passado, ao presente e ao futuro desta tradição.
Ao passado, vão buscar a história, recolhendo memórias, dados e referências sobre o cante e os cantadores.
Do presente, colhem a realidade , fazendo um levantamento exaustivo dos atuais interpretes.
Para o futuro, perspetivam os cuidados a ter e as praticas a desenvolver de forma a ser garantida a continuidade desta prática cultural.
E todo este trabalho, deverá ser desenvolvido tendo-se a consciência de que é urgente fazer-se o elogio, reforçar-se a auto estima, dar-se muito incentivo aos cantadores que ainda temos.
Por outro lado, é premente serem desenvolvidas ações de divulgação ao nível das freguesias, pensadas e coordenadas, visando a promoção e a valorização do cante dentro da sua área geográfica.
Finalmente, deve ser cuidada a passagem do testemunho, através da sua aprendizagem em ateliers de cante e de ensino da viola campaniça.
Concomitantemente, todo este trabalho deve ser perspetivado, para além da sua vertente prática imediata, com o objetivo de ser assumido pelos parceiros um Plano de Salvaguarda para o nosso cante repentista e o registo do mesmo e dos toques à campaniça, no Inventário Nacional do Património Cultural Imaterial.


José Francisco Colaço Guerreiro / Cortiçol

perante uma sala atenta e interessada



e durante todo o dia, outras comunicações foram sendo feitas pelos vários conferencistas convidados, como Dr-Alberto Sardinha,Pedro mestre, Manuel Graça.


Mas não foram só palavras que se ouviram na sala, também se ouviu demonstração viva de Baldão

video produzido pelas Cantadeiras de Alma Alnetjana,


e de viola campaniça, pelos alunos da Escola Secundária de Castro Verde.