quarta-feira, novembro 16, 2016

HISTÓRIA DE ALMADA NA REVOLUÇÃO DE 1383/85

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O NOSSO AMIGO, NATURAL DE CASTRO
VERDE ,A VIVER EM ALMADA, VICENTE
GUERREIRO, É AUTOR DESTE TEXTO
SOBRE A HISTÓRIA DE ALMADA NA
REVOLUÇÃO DE 1383/85.


"A crónica que abaixo escrevo é um tributo à bela e linda cidade de ALMADA, que muito bem me acolheu há 46 anos,e,me tem proporcionado momentos de felicidade.

HISTÓRIA DE ALMADA NA REVOLUÇÃO DE 1383/85

Quem conhecer a história de Portugal,verificará que os anos de 1383 a 1385, encerram uma história assombrosa da nossa dignidade nacional e de como o povo passou a ter consciência de que ele é o autor de todas as epopeias históricas,o sustentáculo único da nossa identidade de nação livre, e, a força capaz de construir o futuro.
Período riquíssimo do nosso evoluir histórico,segue-se a um outro período igualmente valoroso que foi a conquista e a consolidação do nosso património territorial (séculos Xll e Xlll)e posteriormente outro período extraordinário nos séculos XV e XVI -As Descobertas.
Esta revolução de 1383/85 representa,de facto,uma epopeia em que o grande autor é o povo,e o Mestre de Aviz e Nuno Álvares Pereira os chefes que o conduzem.
Nos finais do ano de 1383,por todo o País o povo se levanta contra uma situação de descrédito e aviltamento nacionais."A revolta dos miúdos", tal como lhe chama o historiador da época Fernão Lopes,alastra por todo o Alentejo com a tomada dos castelos de Beja,Portalegre,Estremoz,Évora e Elvas.
No dia 1 de Janeiro de 1384 o Mestre de Aviz chega à vila de Almada,onde os moradores o aclamam como chefe da revolução e lhe fazem a entrega da vila.Mas as traições internas(por parte dos nobres e algum clero) e a agressão por parte de Castela,que se dispunha à conquista de Portugal,vieram criar aos patriotas portugueses,uma situação difícil.Valeu mais uma vez a heroicidade do povo que sustentou a agressão castelhana e repeliu os invasores.O povo de Almada teve nesta luta um papel de grande relevo, principalmente no cerco a Lisboa que o rei de Castela impôs por terra e por mar,depois de ter ocupado,grande parte do País,"não porque os povos lhe obedecessem,mas porque os alcaides e poderosos a isso os obrigavam" ou que "posto que os ricos e poderosos tivessem voz pelo rei de Castela,os povos miúdos,em seus corações,eram contra ele"-no dizer de Fernão Lopes.
Entretanto prepara-se a resistência à invasão dos castelhanos que atravessam a fronteira por todo o lado.O Mestre de Aviz manda Nuno Álvares Pereira,defender o Alentejo.Saem os dois de Lisboa,com as tropas e,em Coina,despedem-se.O Mestre regressa a Lisboa e Nuno Álvares vai com a sua arraia miúda,ao encontro dos castelhanos,que derrota nos Atoleiros.
Lisboa fica completamente cercada em 29 de Maio de 1384,com a chegada ao Tejo de 40 naus castelhanas.Ao norte da cidade,os castelhanos instalaram-se no Lumiar.A situação na capital é dramática.No Tejo,as duas forças navais preparam-se para a batalha.Depois de várias tentativas fracassadas para conquistar Almada-que patriòticamente se mantinha fiel ao Mestre de Aviz-o rei de Castela dirige pessoalmente um ataque à vila de um palanque armado no Alto da Torre.Os almadenses derrubam o palanque e o rei salva-se por um triz.
Os castelhanos pretendem a queda de Almada a todo o custo,porque a vila é um perigo para a sua rectaguarda.Como não podem vencer os almadenses pela força das armas,usam outros meios.Escreveu o cronista da época Fernão Lopes:- a sede aperta em Almada.Cortam a água aos cavalos.E,para não os verem morrer,os almadenses lançam-nos ao rio.Bebe-se àgua dos charcos.Os castelhanos impedem as tentativas de abastecimento de água do rio e começa a morrer gente com sede.Um cavaleiro castelhano vai pelos muros da vila levando consigo notáveis de Almada,que ameaçam matar,se os defensores da vila se não renderem.
Respondem-lhe que preferem morrer todos.O castelhano insiste,e é morto,trespassado por uma lança.O rei de Castela delibera que todos os almadenses serão passados à espada.O Mestre de Aviz entra em contacto com os de Almada.Um nadador,atravessa várias vezes o rio,sempre de noite,levando recados e respostas.Por não haver outro recurso, o próprio Mestre acorda na rendição.Em 1 de Agosto o rei e a rainha de Castela entram em Almada,respeitando a vila e os haveres dos moradores.Este gesto heroico dos almadenses vai reflectir-se no levantamento do cerco à capital,na apoteose do Mestre de Aviz e na consolidação da independência nacional.
Quase 6 séculos mais tarde,quando da implantação da República,os almadenses também tiveram grande notoriedade,quando proclamaram,no dia 4 de Outubro de 1910,o colapso da monarquia e festejaram a implantação da República.Assim,os almadenses foram,desde há muito tempo,agentes das viragens históricas da nossa Pátria.
Almada,2016/11/16"